Libras ganha espaço em dicionário para surdos
Fernanda Atalla (Estagiária de Estudos de Mídia)
Com o objetivo de reunir as linguagens de sinais de diferentes países em um só dicionário, o projeto Spread The Sign, criado na Suécia em 2006, já conta com mais de 30 nações participantes. O Brasil integra a iniciativa, representado pelo Núcleo de Desenvolvimento de Produtos e Processos Inclusivos na Perspectiva da Surdez (NDPIS) do Instituto de Biologia da UFF.
À frente do projeto brasileiro, a coordenadora do NDPIS, Helena Carla Castro, explica que o objetivo do dicionário é permitir que qualquer pessoa tenha acesso à plataforma gratuitamente. “O nosso caminho agora é fazer eventos até mesmo em outros estados, criando polos não só para não concentrar o projeto, mas também para dar visibilidade e acesso para todos do Brasil”, afirma.
Doutora em Ciência e Biotecnologia pela UFF, Ruth Mariani participa do desenvolvimento da versão brasileira, que foi tema de sua tese de doutorado. Em julho de 2013, Ruth foi à Suécia conhecer o processo de gravação do dicionário e recebeu suporte inicial de equipamentos. Desde então, assumiu o compromisso de divulgar a versão brasileira da linguagem de sinais e fazer as postagens diárias dos vídeos para atualização do site.
Segundo Ruth, os dicionários habituais de língua portuguesa têm cerca de 17 mil verbetes, enquanto o oficial de língua brasileira de sinais (Libras), publicado pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), dispõe de apenas seis mil, quantidade esperada de palavras conhecida por uma criança de seis anos, sem surdez. O objetivo da pesquisadora é contribuir para o aumento do número de palavras para que os usuários tenham facilidade no uso do próprio sinal e do sinal de outros países.
As gravações dos sinais ocorrem na Sala de Recursos do Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho (Iepic), onde Ruth leciona. A associação do colégio com a UFF se deve ao fato de esse ser o estabelecimento de ensino em Niterói onde há mais alunos surdos - são 40 -, cuja maioria recebe o mesmo ensinamento de estudantes sem a surdez, e, por isso, encontra dificuldade de aprendizado.
Produção dos vídeos para o dicionário
Os vídeos são produzidos durante a semana por alunos voluntários do Iepic, sempre após as aulas. No processo, todos devem vestir uma roupa padrão para gravar a programação dos verbetes selecionados.
A expressão facial também faz parte do sinal e é fundamental para o entendimento de Libras. “Alguns acentos da língua portuguesa, por
Fotos: Fernanda Atalla
Ruth Mariani e Helena Carla Castro estão à frente do projeto brasileiro do Spread The Sign
Bastidores das gravações no Iepic
exemplo, exigem uma expressão diferente no rosto. Por isso, os alunos devem aprender primeiro o processo de formação das palavras e os seus significados”, explica Ruth.
Palavras como “saudade”, que só existe na língua portuguesa, serão acompanhadas por uma breve legenda em inglês com o significado. Por enquanto, o que o Brasil já tem no site são verbetes usuais do cotidiano, mas ainda serão gravados termos ligados à ciência e tecnologia, com palavras como DNA. Atualmente, o Spread
The Sign já conta com mais de 19 mil vídeos enviados de todos os lugares do mundo.
Segundo a coordenadora, o projeto no Brasil está se desenvolvendo cada vez mais, e a expectativa é de que consiga formar profissionais capacitados para inserir no dicionário conhecimentos de nível superior específicos de cada curso, já que há integração com a UFF.
Após as gravações, os vídeos são editados pelos alunos e divulgados no site
www.spreadthesign.com.