Um
cenário de caos
![]() Casas
em ruínas, árvores secas, troncos arrancados do solo,
inscrições bíblicas sobre o fim do mundo.
O mar avança e destrói tudo. E não há nada que possa contê-lo. O cenário apocalíptico, que parece ter surgido de um filme de ficção científica, é o retrato do processo natural que vem ocorrendo em Atafona, no Norte fluminense texto e fotos: Eduardo Heleno |
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Localizada na parte meridional do delta do Rio Paraíba
do Sul, Atafona é um distrito do município de São João da Barra e se tornou,
durante certo tempo, praia preferida dos campistas e dos sanjoanenses.
Seja pela areia monazítica e suas propriedades terapêuticas ou pela proximidade
com a cidade de Campos dos Goytacazes, a praia de Atafona ganhou notoriedade
na região, a ponto de sua população quadruplicar na alta temporada. Mas
o processo erosivo, registrado desde a década de 1950, tem afetado o distrito.
Segundo a arquiteta Márcia Hissa, mestranda da Universidade Candido
Mendes, houve no período de 30 anos a destruição
de 183 casas em 14 quarteirões. O mobiliário urbano sofreu diversas
mudanças: o farol mudou de lugar duas vezes. Um posto de gasolina, uma
escola e a colônia de pescadores são outros exemplos de imóveis que tiveram
de ser reconstruídos.
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O senhor Jair Vieira, 68 anos, artesão
local, quase foi uma das vítimas do avanço do mar: "Eu queria comprar
a casa em que morava de aluguel. Dei uma oferta, mas a proprietária recusou.
Um mês depois, o mar começou a avançar pelo terreno. A dona voltou atrás
e ofereceu um preço três vezes menor, mas eu recusei. Hoje o local onde
estava a casa está submerso", diz. A Ilha da Convivência, próxima ao distrito,
também sofre as conseqüências da erosão. Dona Belita Ribeiro Pedra, 76
anos, vive lá desde que nasceu. Ela relata que em sua juventude, quando
tinha 18 anos, havia cerca de 30 famílias na ilha. Atualmente, oito famílias
residem lá. Como Atafona, a ilha perdeu a igreja e várias casas. Vítima
do processo erosivo em seus imóveis, dona Belita mudou de casa seis vezes,
nos últimos 26 anos.
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Dona
Belita, mudou de
casa seis vezes |
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Causas da erosão
Aquecimento global, fenômeno El Niño, a força do vento nordeste, diminuição da vazão do rio Paraíba do Sul, ação antrópica, quais seriam as razões para o fenômeno que ocorre em Atafona? Isto é o que busca responder a equipe de pesquisadores da UFF, coordenada pelos geólogos Alberto Figueiredo e Cleverson Silva, e pelo engenheiro cartógrafo Gilberto Pessanha. Eles formularam o projeto Atafona, que foi iniciado em dezembro de 2003. Com a participação de alunos da graduação, do mestrado e da pós-graduação, o projeto, financiado pelo CNPq, compreende o levantamento de dados físico-ambientais com o objetivo de relacioná-los com a erosão costeira, a fim de determinar os principais agentes da dinâmica do processo erosivo e estimar a velocidade e a intensidade do fenômeno para os próximos anos. |
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