Pesquisa de professora da UFF para tratamento de úlceras da perna conquista primeiro lugar em convenção nos EUA
13/3/2012

A pesquisadora Beatriz Guitton, da Escola de Enfermagem da UFF, conquistou o Prêmio Primeiro Lugar em Pesquisa na Annual Convention of Dermatology Nurses Association, nos Estados Unidos, com o trabalho “Efetividade do gel de papaína no tratamento de úlceras da perna: um ensaio clínico controlado”.

A UFF participou da convenção, na cidade de Denver, Estado do Colorado, pelo terceiro ano consecutivo. No ano passado, nesse mesmo evento, o hidrogel desenvolvido na UFF ganhou o segundo lugar em pesquisa, sempre numa parceria entre a Escola de Enfermagem e a Faculdade de Farmácia, o que vem possibilitando à universidade o desenvolvimento de pesquisas de bancada e clínica.

Os outros produtos industrializados utilizados em tratamentos de feridas apresentam um custo muito elevado, comprometendo o tratamento de muitos pacientes. A papaína é uma enzima, obtida da polpa do mamão papaya, que possui uma grande atividade proteolítica, sendo aplicada na eliminação de tecidos desvitalizados em feridas, explica a professora Beatriz Guitton. O desenvolvimento de um gel com papaína possibilitou associar os resultados obtidos com o hidrogel à capacidade de remoção de tecidos mortos da papaína, resultando num produto de maior eficiência. A pesquisa clínica realizada e premiada amplia a segurança na utilização do gel de papaína pelos pacientes com úlceras.

Esse projeto, para o desenvolvimento do gel de papaína que é a base do ensaio clínico, teve apoio financeiro da Faperj e da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Proppi), contou com a colaboração da mestranda Andrea Pinto Leite e da bolsista do Pibic Marja Soares, da Escola de Enfermagem, assim como das professoras da Faculdade de Farmácia Débora Omena Futuro e Selma Rodrigues de Castilho, além da também mestranda Daniele Miura.

Todos os pacientes do estudo tiveram redução da área de lesão

O gel de papaína, agora premiado, foi desenvolvido em duas concentrações diferentes: uma para as feridas que já estão um pouco cicatrizadas e outra para feridas que estão com partes de tecido necrosado. Esse produto, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), foi aplicado em pacientes com úlceras nas pernas. No adulto, as pernas são os locais de mais difícil cicatrização, esclarece a coordenadora do estudo, pela dificuldade de retorno venoso e por serem estes pacientes portadores de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial.

No estudo, o gel de papaína foi aplicado em 16 pacientes com 32 úlceras nas pernas, a maioria com idades entre 50 e 59 anos. Eles foram acompanhados durante 90 dias, e os resultados mostraram que todos tiveram redução da área de lesão, sendo que, em 20% deles, a cicatrização foi total.

Em todos também foi observada a diminuição do odor e dos edemas, e os pacientes continuam com atendimento no Ambulatório de Reparo de Feridas do Huap. Essa continuidade no atendimento, para além da pesquisa, foi ressaltada pela banca premiadora na convenção dos Estados Unidos. Também foi muito salientado, diz Beatriz Guitton, o fato de o serviço ser público e de os pacientes receberem o produto e todo o material necessário para realizar os curativos em casa.

Tratar feridas é sempre um desafio para a enfermagem, afirma a pesquisadora, sobretudo levando-se em conta que alguns pacientes têm úlceras antigas, de cinco ou dez anos. O próximo passo, acrescenta, é continuar os estudos com porcentagens maiores de papaína.