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Uma viagem pelas estruturas celulares: pesquisadores da UFF e do IOC criam jogo científico
14/9/2010

Lançado em uma parceria entre Instituto Oswaldo Cruz e Universidade Federal Fluminense, o jogo Célula Adentro desafia estudantes dos ensinos médio e superior a decifrar questões científicas relacionadas à célula

Um jogo de tabuleiro, quatro duplas e um desafio: solucionar casos sobre biologia celular, molecular e fisiologia, “viajando” em organelas e estruturas celulares. É assim que estudantes dos ensinos médio e superior poderão aprender mais sobre o tema com o jogo Célula Adentro, desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em parceria com o Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e com apoio financeiro da Faperj e do CNPq. O jogo está disponível para download gratuito e impressão no site www.ioc.fiocruz.br/celulaadentro.

Formulado a partir da abordagem do aprendizado pela solução de problemas (em inglês, Problem Based Learning), o jogo Célula Adentro permite que os estudantes entendam, de forma lúdica, como os cientistas construíram alguns conceitos fundamentais relacionados às células, fazendo com que eles ajam como investigadores, simulando o método científico ao formular perguntas e buscar chegar a respostas. “O objetivo é desafiar os alunos para que eles coletem, discutam e interpretem pistas para decifrar questões científicas. Para isso, são propostos diversos casos abordando aspectos relacionados ao estudo da célula: O Hóspede do Barulho (sobre a origem da mitocôndria), O Caso da Membrana Plasmática, Surfando na Célula (que tem como tema a infecção viral), Um por Todos (que aborda a morte celular) e A Pérola do Nilo (sobre biologia forense)”, explica Carolina Spiegel, professora da UFF e pesquisadora do Laboratório de Avaliação em Ensino e Filosofia das Biociências do IOC, idealizadora e coordenadora do projeto, juntamente com o professor da UFF Gutemberg Alves.

“O jogo traz alegria para a sala de aula, permite que os alunos e professores brinquem com a conduta dos pesquisadores e desperta o interesse pela investigação científica. A idéia surgiu em 1996. Depois disso, já foi tema de dissertações de mestrado e teses de doutorado, e foi avaliado positivamente em escolas de ensino médio e universidades do Brasil e do exterior”, ressalta a pesquisadora Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC/Fiocruz e uma das coordenadoras do projeto.

Segundo Carolina, o Célula Adentro é diferente de outros jogos de pergunta e resposta. “O jogo é baseado na interpretação de pistas que podem conter esquemas, figuras, experiências ou resultados científicos originais com os quais a comunidade científica se deparou. Com isso, os estudantes são motivados a agir como investigadores, fazendo anotações, debatendo e chegando a suas próprias conclusões”, ressalta. “Ao escrever a solução dos casos, os alunos estão reproduzindo suas próprias idéias e conclusões, e não apenas repetindo informações ouvidas em sala de aula ou lidas em livros. Eles aprendem brincando”, resume a pesquisadora.

O jogo é cooperativo: as equipes jogam juntas para resolver o caso, colaborando entre si e correndo contra o tempo. Deste modo, todos vencem ou perdem juntos. As equipes têm 30 minutos para coletar, de forma independente, as dez pistas disponíveis. Ao fim do tempo de coleta, o participante coordenador recolhe e guarda as Cartas de Pista, e cada dupla apresenta as suas pistas. Em seguida, as equipes se juntam, formando um único grupo, que tem 20 minutos para discutir e propor uma solução única do caso, que deve ser lida em voz alta para todos. Se a resposta do grupo estiver correta, todos ganham. O jogo tem ainda minidicionário com termos relacionados ao tema presentes nas pistas.

Em Célula Adentro, o professor também é parte integrante do jogo e desempenha um papel fundamental. “Ele deve estimular a discussão e fazer com que os alunos debatam sobre o assunto. Do ponto de vista pedagógico, a discussão é parte do jogo e, nesse sentido, o professor não deve dar as respostas aos alunos, mas mediar o debate. Ao final do jogo, o papel do professor torna-se mais evidente, pois ele deve coordenar a discussão, apresentando pista por pista para garantir que as dúvidas, curiosidades e questionamentos em relação ao vocabulário, aos gráficos e aos experimentos fiquem claros para os alunos”, avalia Carolina.

A formulação pedagógica de Célula Adentro está de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, que destaca a importância de levar ao aluno à prática de investigação cientifica e tecnológica. “O projeto poderia ter sido desenvolvido em forma de estudo dirigido, mas optamos pelo jogo pela possibilidade de transformar o processo de aquisição de conhecimento em uma atividade atrativa, interativa e agradável para os estudantes”, enfatiza a pesquisadora.

Jogo foi avaliado em escolas e universidades públicas e privadas do Rio de Janeiro

Em estudo recente, que deu origem à dissertação de mestrado defendida no IOC, foi verificada a aceitação do Célula Adentro entre o público jovem. No trabalho, que envolveu 605 alunos de escolas públicas e privadas, 94% dos jogadores declararam que gostariam de jogar novamente, porque consideravam o jogo divertido e bom para o aprendizado. “A maior parte dos alunos chegou à solução dos casos propostos, construindo conceitos de biologia de forma dinâmica e reforçando os conhecimentos sobre outros conteúdos. Além disso, as observações realizadas no estudo sugeriram um importante papel do trabalho em grupo (em pares ou trios) para atingir os principais objetivos dos jogos educacionais”, reforça Carolina.

O Célula Adentro também foi avaliado e obteve boa aceitação em universidades do Rio de Janeiro e em escolas na Suíça (estudo que gerou tese de doutorado, também defendida no instituto). “Os resultados apontam para uma boa aceitação do jogo como estratégia de ensino por parte dos professores entrevistados, não apenas por seu caráter lúdico, mas também pelo desenvolvimento de importantes habilidades”, esclarece Carolina. “Os resultados indicaram, portanto, que o jogo é motivador, estimula o raciocínio, gera o entrosamento e troca de idéias entre os alunos e, principalmente, torna lúdico o aprendizado em temas de biologia celular e molecular. Desta forma, este jogo tem grande potencial para o uso na difusão de ciências entre jovens de diferentes faixas etárias e níveis de escolaridade”, finaliza.



UFF Notícias - Núcleo de Comunicação Social (Nucs)