Texto de João Batista de Abreu, professor-adjunto do curso de Jornalismo da UFF e ex-aluno de Theodoro de Barros

Ex-diretor do Última Hora do antigo Estado do Rio, Theodoro Barros lecionou durante 30 anos no curso de Comunicação Social da UFF e aposentou-se em 2003 como professor-titular. Antes de ingressar no magistério superior, teve passagens como repórter, redator e editor pelo Diário Carioca, Correio da Manhã, O Jornal, O Globo e pela revista Manchete. Fora da redação, trabalhou como chefe da Divisão de Promoções e Publicidade e assessor especial da presidência da Telerj.

Pós-graduado em Ciências Políticas, Econômicas e Sociais pelo Instituto de Altos Estudos da América Latina (Universidade Paris III) e livre docente em Jornalismo pela UFF, é também bacharel em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas.

Na UFF, Barros fez parte da equipe de professores que ajudaram a formar as primeiras turmas de Jornalismo, ao lado de nomes como Muniz Sodré, Nilson Lage, Érika Werneck e Rosental Calmon Alves, entre outros. Lecionou as disciplinas "Redação e Edição", "Administração de Empresa Jornalística", "Jornalismo Internacional" e "Jornalismo Político". Dirigiu o Departamento de Comunicação Social e fez parte da Comissão de Especialistas em Comunicação Social da Secretaria de Ensino Superior (Sesu) do Ministério da Educação.

Numa entrevista, inédita até hoje, para um zine produzido por estudantes de Jornalismo da UFF, Theodoro ‘abriu o verbo’, mostrando porque sua ironia e bom humor conquistaram a simpatia dos alunos nestes 30 anos de magistério superior.

Carioca de nascimento, radicado em Niterói desde os sete anos de idade, o nome Antonio revela a ascendência portuguesa. Seu pai era representante comercial e a mãe, dona de casa. Quando jovem, sonhava em se tornar arquiteto, mas aos 18 anos ingressou na Marinha Mercante, viajando pelo mundo afora durante quatro anos.

"Sempre gostei de escrever. O escrever tem duas raízes: praticar muito, escrevendo sempre, e a principal, que é ler. E eu li muito. Inclusive, nesse período da Marinha, uma coisa foi muito positiva: tive tempo pra ler. Dos clássicos aos grandes autores nacionais e estrangeiros".

Theodoro gosta de citar a experiência da viagem, como aspirante, no navio-escola "Guanabara", da Marinha de Guerra: "Como futuros oficiais, éramos obrigados a 'bater ferrugem', raspar o chão com lona e areia. O conceito básico era: 'a gente não pode mandar ninguém fazer nada se não sabe fazer'. Esse é também o meu conceito em jornal e como professor".

Barros conta ainda como foi o início de sua profissão. "Fui jogado no jornalismo em 1959 pelo Nelson [Pereira dos Santos], meu amigo daqui de Icaraí, que era copydesk do Diário Carioca. O jornal não pagava, mas eu rapidamente fui promovido a um monte de coisa. Depois fui para o Última Hora. Nessa época, havia 23 jornais no Rio. Era muito fácil ir de um para o outro. Só do Última Hora fui cinco vezes. Do Diário fui duas, do Correio da Manhã duas, além do Globo e da Manchete."

Junto com Maurício Azedo, atual presidente da ABI, Theodoro veio trabalhar no início dos anos 60, na sucursal do Diário Carioca em Niterói, acumulando com a UH, onde era repórter. "O Samuel [Wainer] me chamou: 'Você ainda está no DC? Então larga, que nós vamos lançar a edição de UH do Estado do Rio'. Como editor e diretor responsável da UH fluminense, fizemos um jornal popular mas, principalmente, político, apoiando as reformas pretendidas pelo governo João Goulart. O jornal também cobriu fatos dramáticos como a morte de Roberto Silveira [governador do Estado do Rio] e o incêndio do circo Americano, com mais de 300 mortos", conta Barros.

O golpe militar de 1964 acabou com a Rede UH, então com 11 edições em sete estados e cerca de 500 mil exemplares diários. Juntamente com oito edições regionais, o UH fluminense foi probido de circular. Restaram apenas o UH Rio e o UH São Paulo. "Restou-me ir para o Correio da Manhã, então batizado ironicamente de 'os derrotados de Abril', por abrigar jornalistas perseguidos pelo regime militar", recorda o professor.

Uma bolsa de estudos de pós-graduação em Ciências Políticas concedida pelo governo francês levou Barros para a Universidade de Paris no final de 1964. No ano seguinte, ele reencontrou Samuel Wainer, que trocara seu exílio no Chile pela França.

"Como minha bolsa era de apenas 500 dólares, aceitei traduzir e adaptar matérias do jornal Le Monde e da revista L’Express para serem publicadas na coluna “Europa Moderna", que aproveitava as matérias originais francesas, cedidas ao UH por acordo obtido por Samuel. Na verdade, a coluna era um balão de ensaio par a uma futura publicação, que seria impressa na França e circularia no Brasil. Após sondagens feitas no Rio por Moacir Werneck de Castro, ficou claro que os militares não permitiriam tal projeto. Continuei fazendo a coluna, mais tarde transformada em página inteira, dentro da editoria internacional de UH, quando regressei ao Brasil no ano seguinte. Graças ao material do Monde e da Express, fizemos a melhor cobertura brasileira da revolta estudantil iniciada em maio de 1968, em Paris, e que nos meses seguintes alastrou-se por praticamente todo o mundo inclusive em nosso país".

Theodoro Barros também se orgulha de outra cobertura internacional: a conquista da Lua. A partir da viagem de ida e volta à Lua pela Apolo 8, a UH passou a editar também uma página batizada de "Jornal da Lua", que noticiava tudo sobre as expedições seguintes.

As pressões políticas e também financeiras sobre a Última Hora obrigaram Samuel Wainer a vender o título do jornal. "Fui trabalhar então na [editoria] internacional do Globo e, paralelamente, como administrador na Telerj, então ainda CTB. A pedido de Nilson Lage, passei para o copydesk. Mas a censura era brava. Não podíamos publicar quase nada. Joguei, então, a toalha: pedi demissão. Para piorar, sofri um acidente de carro que me deixou afastado da Telerj por cerca de um ano. Já estava quase desesperado quando o mesmo Nilson Lage, que era professor da UFF, convidou-me para ser contratado temporariamente para dar aula."

Aceito o convite, em pouco tempo Thedoro Barros descobriu sua paixão pelo magistério. "Fiz os concursos públicos e me doutorei com uma tese que mostrava como as grandes empresas jornalísticas eram as que tinham sabido organizar-se administrativamente. Depois, para me tornar professor-titular, fiz outra tese, mostrando como a Última Hora renovou a imprensa brasileira. Voltei à França para fazer doutorado no Instituto de Imprensa da Universidade de Paris, em 1979, além de pesquisas sobre as novas tecnologias da informação", conclui.

Hoje, aposentado, Theodoro Barros continua em plena atividade, orientando monografias de conclusão de curso, participando de bancas examinadoras e fazendo palestras e conferências em seminários e congressos promovidos por diversas universidades da rede pública e particular.

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* Realizaram a entrevista para o zine Caroço, editado por alunos do Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF os estudantes, hoje jornalistas, Andressa Camargo, Cláudia Lamego, Gustavo Monteiro, Luciana Gondim, Monique Oliveira e Olívia Bandeira de Melo.